segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Impulsos e Repressões

Vida e Morte são forças inconscientes que habitam o ser humano, presentes tanto nos conflitos mais banais como nos mais mórbidos e extremos. Tais pares de opostos estão misturados de tal forma a se revelarem em tudo que o ser humano faz, pensa e sente. Verifica-se, por exemplo, que na sexualidade há um certo grau de agressividade (em proporções variadas), onde há amor existe ódio, entre outros. Estas polaridades podem ser consideradas o “coração” dos conflitos psíquicos dentro de cada um, e podem ser divididas em conceitos de pulsões de vida – Eros; e pulsões de morte – Thanatos. Na psicanálise o conceito de pulsão define algo que procura destruir a oposição entre a mente e o corpo, é algo que impulsiona o organismo a agir de determinada forma. As pulsões de vida são o que definem a autoconservação do indivíduo, satisfação de necessidades básicas; e a busca de prazer, satisfação sexual. As pulsões de morte resumem-se a impulsos agressivos, de apatia, e, no geral, de autodestruição. As pulsões de vida são, por natureza, significativamente mais fortes que as pulsões de morte. Quando se verifica o contrário, trata-se de algum tipo de distúrbio mental a nível depressivo. Pode dizer-se que o Homem se rege pelo prazer, e pela dor.


Egon Schiele - Lovers (1909)
O conflito entre Eros e Thanatos é uma luta constante pela liberdade e felicidade humanas. Uma vez que, para assegurar a civilização, o princípio do prazer é ofuscado pelo princípio da realidade. Desta forma, cada ser humano desenvolve a sua repressão individual, começando pela infância. O indivíduo realiza uma constante repressão de Eros como resultado da dinâmica da trilogia Id, Ego e Superego; e do controlo dos princípios do prazer e da realidade. 

O Id é totalmente regido pelo princípio do prazer. É o que define o indivíduo como organismo, biologicamente. Localizado na zona inconsciente da mente, não conhece a realidade consciente e ética, derivando apenas de estímulos instintivos, o que lhe atribui características amorais. 


Peter Paul Rubens - Saturn Devouring His Son (1636)
O Ego é a parte consciente da mente, responsável por funções como a percepção, memória, sentimentos e pensamentos. É orientado pelo princípio da realidade, sendo influenciado pela interacção entre o sujeito e o ambiente que o rodeia. Assim, tem em consideração as normas éticas que existem.


Edward Hopper - A Woman in the Sun (1961)
O Superego é a componente inibidora da mente, que atua de forma contrária ao Id, é responsável pela repressão dos instintos primitivos. Segue o princípio do dever, e faz o julgamento das intenções do indivíduo, agindo sempre de acordo com as regras para viver em sociedade. É, então, a componente moral e social da personalidade de cada um. 


Bernard Hall - Despair [The Suicide] (1916)
Assim, os instintos de vida são reunidos num Ego organizado que, de certa forma, força o indivíduo a lidar com a realidade de acordo com aquilo que lhe é “útil”. O Superego, por sua vez, encaminha os impulsos do Id, mantendo o Ego equilibrado, e orientando o indivíduo a remover as barreiras que impedem o prazer, embora sempre de forma racional. Desta forma, pode dizer-se que o Ego, ou melhor, o “Eu” é “um escravo que deve obedecer a dois amos/senhores” (-Freud). O ser humano tem, no entanto, tendência a “ouvir” mais o Superego, a consciência moral. Temos maior tendência para obedecer. 


Beatriz Ferreira, nº4

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