domingo, 13 de novembro de 2016

Proibições - Às escondidas de Alá

O Irão que Alá não vê

Nos anos 1950 e 1960, quando em Portugal as viúvas envelheciam de negro e as mulheres não podiam sair do país sem autorização conjugal, em Teerão havia minissaias, discotecas e fartura de aguardente. Em 1979, uma revolução popular liderada pelo imã Ruhollah Khomeini e pelos movimentos comunistas depôs o regime. De um dia para o outro, o manto islâmico cobriu a capital iraniana. Fecharam-se bares, discotecas e foi decretada a proibição das bebidas alcoólicas. As mulheres foram impedidas de cantar e assistir a eventos desportivos e obrigadas a cobrir o cabelo com um véu (hijab). Baniram-se as companhias de bailado e a música foi considerada um ritual satânico. Os mullahs controlam o país há 37 anos.



Testemunhos:
Afshin Zamaneh, 32 anos:
«A aniquilação da cultura é um dos pilares da sobrevivência das ditaduras»
«No Irão de hoje, Romeu teria mais dificuldades do que há 500 anos em Verona. Não podia sair com Julieta, beijá-la, amá-la e, se fossem apanhados juntos num carro, iam parar à esquadra. Com tudo isto, perdemos o instinto de amar. Aprendemos a ignorar a paixão para evitar mais problemas.»
Roozbeh, 26 anos:
«Há duas sociedades no Irão: a que dorme na rua e a que vibra no subterrâneo», «Nesse submundo, fazemos o mesmo que os jovens europeus: bebemos álcool, tocamos música e fazemos festas de arromba.»
Farid:
É Teerão, mas podia ser Ibiza. Não fossem, claro, as diferenças de contexto – a festa desenrola-se na clandestinidade, num armazém de vidros, com paletes e caixas de papelão empilhadas em prateleiras compridas. «É a fábrica do meu pai e ele sabe que eu organizo festas aqui». Contudo, o risco de denúncia e as consequências temíveis – o consumo de álcool, caso não haja antecedentes, é punível com 74 chicotadas, e o uso e tráfico de drogas pode levar à prisão e, inclusive, à pena de morte. «É por isso que quando festejamos fazemo-lo à séria», «Tudo aqui é exagerado: 18 litros de aguardente, cocaína sul-americana, decotes e saias curtas, o número de batidas por segundo. Como podemos ser apanhados a qualquer momento, pomos tudo no máximo.»
Roozbeh:
O grosso dos namoros no Irão é muito diferente: os parceiros são frequentemente sugeridos, quando não impostos, pelas famílias e a vida sexual só se inicia na noite de núpcias.
Justina, raper:
 Tem oito anos de música, 57 mil  fãs no Facebook e 39 mil no Instagram. Mas nunca deu um concerto. No Irão, as mulheres estão proibidas de cantar. «As autoridades alegam que a nossa voz provoca desejo sexual aos homens».
Yara, escritora:
«Tudo é underground no Irão. A sociedade assimilou que tem de mostrar uma face, mas em casa faz a sua vida. Bebe vinho, fuma erva, tudo. Lá fora temos de mostrar que não gostamos nada disso». «Uma mudança radical conduziria ao caos. O progresso tem de ser lento e aos artistas cabe a tarefa de colocar espelhos diante da sociedade, para que ela possa refletir sobre a sua hipocrisia.»
Muhammad Reza Khan, tatuador e artista urbano:
Hoje, faz cerca de dois mil euros por mês com um negócio proibido. «Eu queria pagar impostos mas nunca me deixariam abrir uma loja.» Já pintou de tudo, «Os meus trabalhos sobrevivem apenas uns dias até serem destruídos pela polícia. Houve um que durou duas horas.», «Quando vou à janela de minha casa, vejo o mundo a preto e branco. Por isso, penso deixar o Irão. Mas espero poder um dia voltar e ver cor neste país.»
                                                                                                       Informação retirada de Notícias Magazine
                          
                                 Porque no fundo...«Proibir algo é despertar o desejo»


                                                                                                                              Maria Rui



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